quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Sobre o que somos... e o que dizemos

Olá a todos!

Já ouviram certamente falar d'A Viagem do Elefante, o novo livro de José Saramago, que nos conta a história de Salomão, um elefante oferecido pela família real portuguesa a um arquiduque austríaco, e da viagem que, por força dessa oferta, o pobre animal foi forçado a fazer, desde Lisboa até Viena.

Não se assustem; ninguém me paga para fazer publicidade aos livros do Nobel da Literatura português e esse não, é, de todo, o meu propósito. No entanto, gostava que lessem umas quantas palavras que das mãos daquele senhor saíram:

“(…) Realmente, o maior desrespeito à realidade, seja ela, a realidade, o que for, que se poderá cometer quando nos dedicamos ao inútil trabalho de descrever uma paisagem, é ter de fazê-lo com palavras que não são nossas, que nunca foram nossas, repare-se, palavras que já correram milhões de páginas e de bocas antes que chegasse a nossa vez de as utilizar, palavras cansadas, exaustas de tanto passarem de mão em mão e deixarem em cada uma parte da sua substância vital. (...) Ainda que o não pareça à primeira vista, tudo isto tem muito que ver com aquela corajosa afirmação, acima consignada, de que simplesmente não é possível descrever uma paisagem e, por extensão, qualquer outra coisa. (...)”

Após um momento de reflexão, pergunto: o que a comunicação social nos conta, o que escrevemos nos nossos blogues, as Constituições formais face às materiais… serão elas tentativas vãs de expressar em palavras uma realidade demasiadamente vasta e complexa para os nossos pequenos mundos?

Eu acredito que sim. Nada do que possamos dizer basta para materializar tudo aquilo que nos excede, ultrapassando os limites desta breve existência – depois de nós outros virão, tal como aqueles que nos precederam, e nem assim se chegará à Verdade.

Por isso, arrisco concluir que cada palavra dita, escrita, imaginada, não é, de todo, uma certeza, mas sim uma aproximação, a esperança de chegar mais e mais longe, embora sabendo que, provavelmente, o fim da linha permanecerá uma incógnita. Valerá, então, a pena continuar? Para a resposta, uso palavras emprestadas: tudo vale a pena, quando a alma não é pequena…

1 comentário:

Vasco PS disse...

As palavras, as frases, os textos, a escrita, tudo é um ciclo. E como disseste, uma aproximação, a meu ver, de conclusão de coisa nenhuma. É como tentar apanhar a nossa sombra; ela está sempre um passo a frente. (dependendo da hora do dia, é claro lol)