quinta-feira, 26 de março de 2009

Pedro D'Orey da Cunha - A Relação Pedagógica - Princípio da Fascinação

II - PRINCÍPIOS

Relação Pedagógica baseada na autonomia

Mas, infelizmente, não temos que escolher entre o autoritarismo e a permissividade. Os grandes educadores sempre encontraram uma terceira via de relacionamento com os educandos, que promove directamente o seu crescimento, sem passar pela guerra ou pelo abandono, pela imposição ou submissão. Relacionamento que promove a autonomia e desemboca na colaboração e no amor. É a terceira via que eu julgo deva ser a grande corrente da reforma educativa, aquilo que define propriamente a pedra angular da reforma.

Escolhi 10 princípios para caracterizar a relação pedagógica baseada na autonomia. Princípios que se entrecruzam e se reforçam mutuamente e que, no fundo sugerem estratégias próprias de relacionamento.

1. Princípio da Fascinação

Perguntei um dia a um grupo de alunos o que era um bom professor. Depois de algumas brincadeiras, uma aluna geralmente reservada avançou: «o bom professor é o que nos faz gostar da matéria». O silêncio que se seguiu mostrou bem a adesão de todos à definição. O bom professor não é, portanto, aquele que provoca admiração pelo seu saber – esse pode até fazer-me desanimar; não é aquele que entretém – com esse não se aprende; nem é aquele que obriga a estudar – esse não educa. O bom professor é aquele que apresenta de tal modo a matéria que eu me sinto fascinado por ela e mobilizo as minhas energias e recursos para a conhecer e gozar. E está-se a ver que a educação pelo fascínio se relaciona intrinsecamente com a autonomia. Eu levanto-me e estudo, não porque me mandam, não porque sou obrigado, mas porque o objecto me atrai, porque quero, porque gosto.

No fundo o que é a pedagogia e o que é a didáctica, senão a ciência, ou a arte, de saber apresentar as matérias de tal modo adaptadas à idade e estádio de desenvolvimento da criança, que ela se sinta atraída e mobilizada? Digo arte, não tanto pelo que ensinar bem implica de jeito e habilidade, mas pelo que implica de beleza e de estética. Ensinar bem Matemática é mostrar a beleza da Matemática; ensinar bem Português é revelar o encanto do bom texto e da boa expressão; ensinar bem Ciências é abrir a porta para o gozo da natureza.


Fonte: CUNHA, Pedro D'Orey da - Ética e Educação, Universidade Católica Editora, Lisboa, 1996, pp. 59-60

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