10. Princípio da Exigência
Os nove princípios que acabo de referir são princípios que eu apelidaria de modo. Caracterizam o modo do relacionamento pedagógico com as crianças quando temos em vista o desenvolvimento da sua autonomia. O modo como ensino é fascinando-os pelos objectos e, em todo o processo de aprendizagem, o modo como me relaciono com as crianças é respeitando-as, encorajando-as, compreendendo-as, confrontando-as, etc…
Gostava agora de introduzir um último princípio que deve colorar todos os outros, que lhes deve dar o sabor especial e a dignidade final. Um princípio, não de modo, mas de qualidade – o princípio da exigência.
Temos que ensinar muitas coisas e muito às nossas crianças. Temos que as preparar para uma vida de rigor, de qualidade e de extrema complexidade.
Assim, aqueles princípios de modo devem-se entender no contexto de um desenvolvimento esforçado, de uma intolerância pela mediocridade, de uma contínua insatisfação pelo estádio adquirido. As crianças não arrebentam. Quanto mais exigimos delas, contanto que seja com respeito, com o devido encorajamento e compreensão, mais elas se sentem queridas, desejadas e entusiasmadas. O bom professor não aceita trabalhos mal feitos, respostas mal articuladas, projectos sem gosto nem cuidado. Ao desportista não se lhe deve desculpar o desleixo académico, nem ao «marrão» se lhe pode perdoar o descuido nas artes e no desporto. Todos podem ser melhores em tudo e ninguém pode ficar para trás. Sobretudo, que ninguém aceite aquelas desculpas de mau pagador, que todos sabemos são apenas álibis para a nossa preguiça ou para a nossa falta de imaginação. Não é por não haver pavilhão que não se dá ginástica – pode-se fazer exercício em qualquer campo; nem é por não haver sala de Arte que não se estimulam as qualidades artísticas – pode-se fazer o desenho em qualquer carteira.
Há épocas na história em que a geração adulta exige pouco ou menos da geração mais nova. São épocas de complacência e que apontam para um irremediável declínio. Creio que não nos encontramos em tal época. Pelo contrário, de todos os lados nos invade o descontentamento com o que possuímos e com o que somos e a aspiração de, pelo menos, darmos aos nossos filhos algo melhor do que aquilo que nós tivemos. Ora, o melhor que lhes podemos dar é a preparação necessária para que eles, autónomos, empreendedores e activos, possam estar aptos a lutarem por alcançar a qualidade de vida que nós não pudemos conseguir.
A grande barreira a esta tarefa seria ou a falta de amor sério ou um psicologismo barato que, sob a desculpa da compreensão, facilitasse tanto a vida das nossas crianças que elas se não desenvolvessem nem crescessem.
A Reforma Educativa é e deve ser uma reforma de exigência e de qualidade, para todos e em todos os aspectos.
Fonte: CUNHA, Pedro D'Orey da - Ética e Educação, Universidade Católica Editora, Lisboa, 1996, pp. 67-68
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