quarta-feira, 23 de junho de 2010

As Mensagens de Fernando Pessoa e a Minha Mensagem!

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou trez vezes,
Voou trez vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-rei D. João Segundo!»

«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou trez vezes,
Trez vezes rodou immundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-rei D. João Segundo!»

Trez vezes do leme as mãos ergueu,
Trez vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer trez vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quere o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
D' El-rei D. João Segundo!»

Esta é uma mensagem de ânimo dirigida muito particularmente aos meus jovens colegas de curso para que não desistam nunca.

Hoje cheguei a casa mais triste do que contente e não foi por causa do exame desta manhã de Direito Administrativo, que me deixou o cérebro a ranger como uma cancela velha girando sobre gonzos enferrujados. Não!

Cheguei triste a casa porque não me conseguia libertar da imagem, inúmeras vezes repetida em poucos minutos, de ver colegas meus abandonarem a sala sem fazerem o exame. Desistindo. Desistindo sem tentarem.

Também eu (e provavelmente a esmagadora maioria dos estudantes), tal como Ulisses, já fui tentado pelo doce canto da sereia que se esconde por trás da porta de saída, convidando-me ao abandono, à desistência. Resisti! Venci!

Mesmo quando os resultados não são os desejados, resistir é vencer. Porque uma universidade pública não é uma colónia de férias. O trabalho é árduo e é preciso ser feito. Com esforço, dedicação, perseverança, partilha, colaboração, cooperação e sobretudo acreditando em nós próprios. E resistir sempre, porque:

RESISTIR É VENCER!

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