Há uns anos fui aos Açores e fiquei surpreendido (para além da beleza natural das ilhas, obviamente) com o aproveitamento da energia geotermal aplicada à cozinha regional, concretamente na feitura de um delicioso cozido das Furnas (semelhante ao cozido à portuguesa mas que, em vez de ser cozinhado no lume do fogão ou da lareira, são os tachos enfiados em buracos no solo, junto às caldeiras naturais da Lagoa das Furnas).
Hoje, tantos anos volvidos, sou surpreendido com outra maravilha dos Açores: parece que lá nasce dinheiro (não sei ainda se são euros, dólares, outra moeda de qualquer outro país, ou simplesmente ouro convertível em euros).
Vejamos. Uma brincadeira que eu costumo fazer com os meus filhos para que eles compreendam que não se deve esbanjar hoje o que pode fazer-nos falta amanhã é a seguinte: digo a um deles para ir buscar rebuçados a um pote e distribuir pelos irmãos, e eles vão. Assim se vão habituando a repartir. Só que, por vezes, o pote está vazio e eles voltam de mãos vazias, a reclamar. Eu insisto para que voltem lá buscar os rebuçados e eles insistem que o pote está vazio e que, por isso, não podem tirar rebuçados nenhuns. Depois de várias insistências infrutíferas chegamos todos à conclusão de que "não se pode tirar de onde não há". (Quem diria).
Ora, se o Presidente do Governo Regional dos Açores, Carlos César, pretende compensar os funcionários públicos a desempenhar funções nos Açores (deduzo que assim seja, e não que se trate de compensar funcionários públicos açorianos – e só estes – onde quer que seja que eles exerçam funções) em montante igual àquele que eventualmente lhes seja deduzido por força das medidas de contenção previstas no Orçamento de Estado para 2011, e tendo nós chegado à (óbvia) conclusão de que "não se pode tirar de onde não há", só se me apresenta uma explicação: Nos Açores nasce dinheiro!
Se assim é (se nasce dinheiro nos Açores), o sr. Carlos César tem toda a legitimidade para compensar os funcionários públicos nos valores que entender, sendo que os limites dessa compensação serão tão só aqueles que a "fonte das patacas" lhe fornecer.
Em caso contrário, o máximo que o sr. Carlos César pode advogar é que, estabelecidas prioridades, o vencimento dos funcionários públicos dos Açores vem no topo da lista, mas neste caso não diga o sr. Carlos César que essa medida «não custa um cêntimo ao Estado ou aos cidadãos de qualquer região do país», porque ao fazê-lo está a chamar-nos a "todos" de parvos e outras coisas bem piores.
Se existe de facto uma "fonte das patacas" nos Açores, então é certinho que vou fazer as malas e voar para lá.
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