Num país onde tudo é previsível, num dia sem surpresas, há um momento que fica para a história! Para a minha história e a da minha família, claro está.
O domingo estava soalheiro, apesar do vento frio, e após um almoço animado, típico domingueiro, fui votar, no cumprimento responsável do meu dever cívico, acompanhado da minha família.
Numa atitude pedagógica, e como é hábito há treze anos, os meus filhos acompanham-me à cabina de voto. Desde o nascimento do mais novo, o Leonardo, que as mulheres vão para uma cabina e os homens para a outra. Três a dois, ganham elas.
O Leonardo acompanhou-me. Peguei nele ao colo (tem três anitos) para o elevar ao nível da base onde pousei o boletim de voto, para lhe ficar acessível. Não poderia ser de outra forma, já que se baixasse o boletim ao nível do pequeno a votação deixaria de ser secreta e poderiam impugnar o meu voto.
Ora, foi precisamente nesse momento que se deu o facto digno de nota. O Leonardo pegou na caneta, olhou para o boletim de voto e eis que se ouve da sua garganta, num timbre altitronante na sala absorta em silêncio (como a solenidade própria do acto recomenda), a seguinte interrogação (carregada de compreensível ingenuidade e indignação):
— Ó pai, onde está a tua fotografia?! E eu... pst, cala-te, pá, põe ali a cruz...
E o resto eu não conto... aliás, o resto foi só rir, e o riso em família não se traduz em palavras!
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