Autonomia e Autoritarismo
O autoritarismo, todos o sabemos, mata, em princípio, a autonomia. O que o autoritário pretende, com efeito, não é que o outro seja autónomo, mas obediente; não que pense por si, mas que acredite; não que critique, mas que absorva; não que aja segundo a sua consciência, mas que se conforme à norma. O autoritarismo cria escravos, não homens autónomos. Pode criar ordem, mas nunca orgânica. Todos conhecemos o professor autoritário: não admite perguntas, não aceita sugestões, recusa o diálogo. Dá poucas razões para aquilo que ensina e tanto as razões como as explicações são para ser aceites sem pergunta nem desafio. Obviamente, a criança educada pelo professor autoritário tem poucas probabilidades de ser autónoma.
O autoritarismo, todos o sabemos, mata, em princípio, a autonomia. O que o autoritário pretende, com efeito, não é que o outro seja autónomo, mas obediente; não que pense por si, mas que acredite; não que critique, mas que absorva; não que aja segundo a sua consciência, mas que se conforme à norma. O autoritarismo cria escravos, não homens autónomos. Pode criar ordem, mas nunca orgânica. Todos conhecemos o professor autoritário: não admite perguntas, não aceita sugestões, recusa o diálogo. Dá poucas razões para aquilo que ensina e tanto as razões como as explicações são para ser aceites sem pergunta nem desafio. Obviamente, a criança educada pelo professor autoritário tem poucas probabilidades de ser autónoma.
Os métodos mais utilizados pelo professor autoritário para subjugar o aluno são o castigo (sobretudo o castigo corporal) e a humilhação.
Entramos aqui numa área muito delicada e que toca em muitas feridas da nossa consciência e muitas receitas da nossa tradição. Comecemos pelo bater. Com efeito, o bater está relacionado não só com o autoritarismo abusivo dos nossos piores carrascos mas está também relacionado, muitas vezes, com o amor e preocupação dos nossos pais e dos nossos melhores professores. Encontramos continuamente adultos que exprimem agradecimento ao professor que lhes deu uma bofetada a tempo, ou que sentem reconhecidos pelas tareias que periodicamente levavam dos pais quando descarrilavam.
Mas distingamos bem os conceitos. Há coisas muito piores que o bater. Todas as crianças preferem a tarei ao abandono e à humilhação. Quando eu agradeço àquele professor o ter-me dado a bofetada a tempo, o que realmente lhe estou a agradecer não é a bofetada mas o ter-se preocupado comigo. Quando me lembro das tareias dos meus pais, não é que eu tenha saudade da pancadaria, mas dou graças por não ter sido abandonado. O que se pode dizer então é «que pena essa preocupação e esse amor não tenham sido expressos de outro modo!». Talvez então, não só endireitasse, mas também aprendesse.
Assim, apesar que se poder admitir que o castigo corporal nem sempre esteja ligado ao autoritarismo, o que é facto é que tal método de educar, de si, humilha e amachuca. De si, não promove a autonomia e a confiança própria. É degradante e viola a dignidade humana da criança. E é por isso que nenhum de nós admite actualmente como método de disciplina entre adultos, como se admitia na Idade Média. Mas há métodos de disciplina mais degradantes ainda que o castigo corporal. A humilhação directa, o sarcasmo, o ridicularizar, o ignorar são bem mais prejudiciais ao desenvolvimento da autonomia que o bater. Infelizmente tais métodos são utilizados por muitos pais e professores, às vezes com a desculpa consciente de que «é para eles não levantarem muito a cabeça», para não se tornarem "orgulhosos", para serem obedientes. No fundo para que se submetam e se conformem, não para que se desenvolvam e se autonomizem.
Fonte: CUNHA, Pedro D'Orey da - Ética e Educação, Universidade Católica Editora, Lisboa, 1996, pp. 57-58
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