quinta-feira, 19 de março de 2009

Pedro D'Orey da Cunha - A Relação Pedagógica - Autonomia e Integração

Autonomia e Integração

Perguntamo-nos todos naturalmente o que é que acontece no termo do desenvolvimento da autonomia. Quem é essa pessoa autónoma? Será um individualista? Será um egoísta? Pensará nos outros? Reconhecerá os outros? Amará?

Investigações modernas demonstram claramente, primeiro, que não há desenvolvimento da autonomia sem ser no contexto de uma relação de intimidade e, segundo, que a autonomia é provocada pela consciência da autonomia dos outros e desemboca sucessivamente na colaboração, na cooperação e no amor.

Assim, o bebé pensa ao princípio que a mãe faz parte dele. Não reconhece a autonomia da mãe, nem com certeza é consciente de si próprio. É só à medida que a mãe mostra a sua autonomia, que deixa às vezes de estar presente, que se afasta, que se zanga, que exprime o seu desagrado, que o bebé a vai reconhecendo como diferente e, nessa mesma medida, que se vai reconhecendo como autónomo. Daqui já se pode ver, que mães que se tornam dependentes dos filhos, que se submetem a todos os seus desejos e caprichos, que nunca mostram os seus interesses e direitos, mães que não são autónomas, são mães que nunca provocam a autonomia dos filhos. Os filhos continuam a pensar que os pais são parte deles, que todo o mundo gira à sua volta, e portanto não podem passar sem os pais ou quem os substitua ao seu serviço. Estes filhos não são autónomos, dependem intrinsecamente do trabalho dos outros e da sujeição a si de quantos os rodeiam. Usam, utilizam e manipulam os outros para existirem. Encontram-se inteiramente dependentes. O egoísmo é a outra face da dependência.

Mas a pessoa que se foi habituando a ver o outro como autónomo, esse foi criando as condições para se relacionar. Ao perceber que os pais têm interesses próprios, começam a olhar para eles como diferentes, como pessoas. Essa diferença do outro fá-los crescer na consciência de si próprios. No termo do processo, temos uma pessoa consciente de si e do seu valor que reconhece o outro como outro e que, portanto, numa dinâmica infalível e dramática, é levado a dar-se, a contribuir, a amar, a dedicar-se.

Destes pressupostos filosófico-psicológicos já podemos deduzir o que a relação pedagógica não pode ser, se quisermos promover a autonomia das nossas crianças. Não pode ser, em primeiro lugar, uma relação baseada no autoritarismo e na humilhação. Tão pouco se pode fundar na permissividade ou na gratificação permanente. A relação pedagógica tem, finalmente, que se assumir como protectora de desenvolvimento.

Fonte: CUNHA, Pedro D'Orey da - Ética e Educação, Universidade Católica Editora, Lisboa, 1996, pp. 56-57

2 comentários:

Diogo Silva disse...

Haaaa... eu tinha de cá passar já só ca faltava eu =D isto está muito bom e ouvi dizer que havia por cá o regimento tanto melhor hehe se quiseres adicionar o meu blog á vontade até fazias publicidade ao meu wordsthroughtheheart.blogspot.com
Diogo Silva Turma 2 Viva a DireiiitooooOO =0)

Luís Paulo (Estudante de Direito) disse...

Olá Diogo!

Fiquei muito contente com a tua visita. Não respondi ontem ao teu comentário porque tive um concerto e cheguei a casa tarde e muito cansado. Se chegar tarde não é novidade, já chegar cansado não é nada habitual! Hoje, por seu turno, o dia tem sido extremamente atribulado, de tal forma que se me foi a motivação para fazer o que quer que seja. Há dias assim! :)

Entretanto fui dar uma espreitadela no teu Blogue e gostei muito do que vi e li. Vou já adicioná-lo no nosso Blogroll, não tanto por que o sugeres mas, e acima de tudo, porque gosto de partilhar aquilo de que gosto!

Como sabes, que a qualquer momento podes contribuir para o dinamismo e engrandecimento deste espaço como co-autor bastando para tal manifestares esse desejo pelas várias formas já conhecidas.

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Um abraço e bom fim-de-semana!