quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Chiamate i pompieri!

Sinceramente, Itália sempre me fascinou… Não pelo facto de sua capital ter sido mãe de um Império que nos deu muitas raízes e da qual todos que lá moram querem fugir quando os turistas se atropelam para entrar, não pelo facto de as suas riquezas históricas nos levarem a Rómulo e Remo, não pelo Vaticano (lá, imponente, como sempre) para além de ser a casa física dos guardiões do espírito e tentar, às vezes, fazer como ponto de equilíbrio nas questões mais delicadas, não pela “lo stivale” que a todos nos mostra um pouco do que a natureza faz e que dá nome ao país, não… não por ser “il Belpaese”.

Há quem se lembre de Roma quando se fala em Itália, há quem se lembre do que o Império que lá nasceu nos deu… Outros lembram-na pelos seus defeitos, pelas inúmeras pessoas de todos os tipos e feitios que, afinal, as há em qualquer lado… Bem, eu apaixonei-me pelo país pela língua: as semelhanças com o nosso português são inúmeras, o sentimento que ela nos transmite é uma mistura de paixão com um calor acolhedor.

Mas, enfim, todos nós temos a nossa opinião sobre cada lugar diferente no mundo, cada país pertencente à nossa EU… Talvez cada um de nós acha o que quer sobre Itália.

O que e vim aqui fazer foi deixar um pequeno comentário às últimas notícias que venho ouvindo sobre este país: quer dizer, apenas pretendo transmitir aquilo que vem sendo dito sobre o Governo de Sílvio Berlusconi e as suas controvérsias, convidando todos os que desejarem a fazer uma reflexão escrita ou tão-só interior a este tema.

Primeiro ponto, transmito um pouco da notícia que hoje li na revista Visão: foi aprovado, “na passada sexta-feira, um decreto-lei que autoriza a realização de «rondas de cidadãos» com vista a evitar violações. A medida, apelidada de fascista pelos seus críticos, permite que, sob autorização da autarquia local e controlo de um delegado da administração, sejam criados regimes de vigilância civil. Estas verdadeiras milícias, de triste memória em Itália, devem ser formadas por «voluntários não armados», provenientes de associações, dando-se embora preferência, na sua constituição, a «ex-membros das forças armadas». O decreto-lei constitui mais um passo no conflito que opõe o primeiro-ministro aos restantes altos magistrados da nação, do presidente da Assembleia, ao próprio Presidente da República. Esta é a terceira medida a suscitar fantasmas fascistas, no espaço de um mês. As duas anteriores prenderam-se, uma, com a obrigatoriedade de os médicos denunciarem pacientes que sejam imigrantes ilegais (na foto, o campo de Lampedusa, após uma revolta) outra, com a pretensão de confinar os ciganos a determinadas áreas.”

Segundo ponto, quando me encontro a ver o Primeiro Jornal, SIC, a notícia é a seguinte: o Governo, em Itália, prepara-se para aprovar uma nova forma de fazer greve – a greve on-line – para que os trabalhadores tenham apenas de dizer que estão de greve, sem que isso prejudique a empresa.

Bem, posto isto, o que eu posso dizer é:

1) Que tipo de violações pretende o governo italiano evitar? Quantos outros tipos de violações serão cometidos devido a esta medida? Eu não sei o que se lá passa, por isso, falo completamente no escuro, mas será que eu me sentiria mais segura sabendo que, de vez em quando, andam por aí grupos de homens supostamente desarmados, com treino militar para me proteger? Será esta a medida mais eficaz ou mesmo a única medida possível? Repito, não conheço a realidade italiana. Apesar disso: porque não se pensa em iluminar as ruas medronhas, ou porque não se pensa em todas as casas que estão desabitadas? Melhor, porque é que tantos crimes não são punidos e outros tantos são incentivados? Ainda hoje, na aula de economia política, ouvimos dizer que a Defesa não pode ficar a cargo de particulares: primeiro destoem-na e depois acabam por se destruírem.

2) Depois, cadê o sigilo profissional? Muito bem, temos de proteger as nossas fronteiras dos perigos dos “mortos de fome”, mas e se fiscalizassem primeiro? E se, em vez de ficarem de braços cruzados à espera que uma ordem lá de cima venha tornar todos os profissionais de saúde os “chibos de serviço”, partissem para o terreno e fizessem o seu trabalho? Daqui a pouco estamos a dar uma recompensa no valor do salário mínimo por cada imigrante ilegal que for entregue às autoridades… Daqui a pouco temos profissionais da caça ao trabalhador furtivo…

3) Em seguida, depois de retirados todos aqueles que não são bem-vindos no nosso território… há que “chegar pró lado” os ciganos. Não sou defensora das etnias em vias de extinção, mas o que irrita, irrita! Tudo bem que, muitos deles (e atenção ao perigo da generalização), não se querem integrar e não pretendem viver como “as pessoas normais”. Mas quem somos nós, pessoas normais (aquele que segue a norma, a maioria), para tentarmos uma aculturação falhada sobre os ciganos e, depois, para os castigarmos por eles serem maus alunos? Eu não sei, mas se já sobrevivem tantos estereótipos sem os discriminarmos, como é que algum dia vai ser possível eles se sentirem tentados a partilhar “connosco” a sua maneira de viver e, sequer, como é que eles vão experimentar a “nossa”, se os mandamos para um canto? Imaginemos: eles não querem dar estudos aos seus filhos, podem até pensar que não vale a pena; mas, uma criança de 7, 9, 12 anos que vive numa “aldeia isolada no mundo da etnia cigana” que vá a uma escola em que TODOS olham para ela como um bicho, voltará???

4) Por último, isto faz-me lembrar quando, na China, se viam os funcionários a fazer greve simplesmente com uma tabuleta que dizia: “estou em greve”. Greve?? Será que todos se esquecem do que isso significa, ou não querem lembrar? Ah! Pois! As empresas não podem ter quebras de produtividade! Eu não sou apologista do ficar em casa porque só tive um aumento de um euro, ou até porque o salário congelou. O que eu acho é que os funcionários devem contribuir para o sucesso da empresa e os empresários devem estar preocupados com o mínimo bem-estar e empenho da sua mão-de-obra. Portanto, quando a massa operária protesta, no mínimo, deve-se dar atenção: quanto mais não seja reparar pelo simples facto de não estarem lá, a produzir. Ora, se apenas dizemos “estou em greve por isto…” e nada mais fazemos, o boss vai ignorar completamente a nossa mensagem (até sorri….).

E pronto, sem mais nada a dizer…

3 comentários:

catarina disse...

Olá Filipa!!!

Nunca estive em Roma, mas felizmente tive a oportunidade de conhecer Florença e Veneza, e devo confessar que fiquei verdadeiramente fascinada com a beleza daqueles lugares! A magnificência do edifícios, a beleza das esculturas, a magia de uma cidade flutuante… é uma paragem obrigatória no roteiro de qualquer turista!!!

Mudando de assunto, é de facto lamentável que o governo italiano leve a cabo políticas como as que aqui expuseste. O fantasma do fascismo há-de sempre pairar sobre aquele país, mas claramente não pesa na consciência dos governantes!!!

Pergunto: o que é que os professores ensinam às crianças e jovens italianos? «Sabem, vivemos numa democracia, com liberdades e tudo, mas de vez em quando apoiamos o patrulhamento das ruas por homens cuja acção tanto pode ser benéfica como catastrófica, e segregamos as minorias étnicas, para que não haja mais conflitos com a maioria! Mas tudo com boa intenção, entendem?!»

O que dizer? É vergonhoso…

Luís Paulo (Estudante de Direito) disse...

Minhas amigas, Filipa e Catarina, normalmente baralham-se-me as ideias, hoje são as teclas do meu computador que estão em tal revolta que mal consigo escrever uma linha. As marotas, começam a assumir os defeitos do dono.

Sabem, deviam inventar uma máquina que lesse o nosso pensamento e o convertesse em texto. Ah! que bom era. Ficarmos ali, de olhos fechados, e as nossas ideias a passarem para o papel sem se perder pitada do nosso pensamento.

Enquanto isso não é possível vamos sonhando. Vamos sonhando e vamos (humanidade em geral) sendo governados por certos indivíduos sem vergonha e descarados. Que essa é a chave do sucesso: o descaramento e a sem-vergonhice. Que os honestos e virtuosos, além de passarem por tolos numa sociedade ímpia, não saem da cepa torta. Mas tudo é cíclico e as coisas vão mudar...

Agora também eu vou mudar de assunto. E para outro bem diverso. Vou convidar todos os nossos leitores e amigos (e especialmente a vós, minhas amigas) a ler o meu primeiro artigo publicado "nesta casa". Para facilitar essa tarefa deixo-vos aqui o título com o respectivo link, basta clicar nele:
Apresentação
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Eu acredito!...

E vós?!...

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

este texto é muito bom. parabéns filipa.