A Relação Pedagógica
INTRODUÇÃO
Pais, professores e jornalistas perguntam com frequência em que é que consiste a Reforma Educativa. Há muitos modos de responder a esta pergunta, pois muitos são os contextos na qual ela se situa e muitos são os vectores da reforma que se podem fazer realçar. Mas, se quisermos encontrar o ponto crucial do qual todos os vectores dependem e o horizonte subjacente a todos os contextos, julgo que poderíamos responder com a seguinte afirmação:
A reforma educativa é a mudança do sistema educativo necessária para levar a cabo um novo desenvolvimento pessoal e social do jovem Português, generalizando uma relação pedagógica nova, condizente com essa finalidade.
Pretende esta afirmação, ainda em estado excessivamente formal e abstracto, apontar para uma distinção entre o fim da reforma educativa e o meio a alcançar. O fim da reforma é o desenvolvimento pessoal e social do aluno. Esta afirmação é já de si uma opção de fundo. Assim, estabelece-se a priori que o fim da reforma não é uma qualquer conveniência da administração, como se fosse, por exemplo, a informatização da escola, ou a maior eficiência ou a economia de meios. O fim da reforma tão pouco se situa apenas na dignificação dos professores, na participação dos pais ou no envolvimento com o meio. Quando se diz que o fim da reforma é o desenvolvimento pessoal e social do aluno quer afirmar-se, à partida, que a intencionalidade da mesma reforma, a meta, o alvo, a ênfase, o objecto que se quer atingir é o utilizador do sistema, não o seu produtor. A reforma educativa está ao serviço do aluno antes de mais, sobretudo e por excelência.
Mas podemos ir mais além da nossa definição. Se queremos a reforma, é porque sentimos que algo está mal.
Não é tanto que queiramos reformar o aluno. O que a sociedade portuguesa pressente desde há muito, aquilo de que todos os lados se sugere, quando não se exige, é a reforma do sistema, para que um novo tipo de português possa emergir. O sistema educativo necessita de se reformar para poder facilitar a emergência de jovens desenvolvidos pessoal e socialmente. Com efeito, suspeitamos, desde há muito, que os jovens portugueses que estão a sair do sistema educativo, aqueles de quem nos orgulhamos e que nos enchem de esperança são mais sobreviventes do que produtos do sistema; desenvolveram-se apesar do sistema e não por causa do sistema.
Mas não nos encontramos apenas no estágio do descontentamento. Creio, pelo contrário, que entre nós os adultos desta geração, aqueles que já sentimos a responsabilidade de preparar a geração que nos vai suceder, creio que entre nós se foi generalizando um largo consenso sobre o tipo de português novo por que ansiamos. Temos uma ideia concreta sobre qual o perfil pessoal e social do jovem que queremos promover e estimular. Recomendo sobre este ponto a leitura do pequeno livro publicado pelo Ministério precisamente intitulado «O Perfil Desejável do Diplomado do Ensino Secundário».
Divide-se este perfil cultural em três aspectos, interligados, é certo, na realidade, mas distinguíveis no pensamento para melhor clareza e compreensão; o perfil cognitivo-cultural, o perfil sócio-moral e o perfil físico-motor. No entanto, todos estes elementos se poderiam sintetizar em dois grandes vectores, os quais simbolizam também os grandes princípios da Lei de Bases do Sistema Educativo; o novo jovem português, aquele que a emergência do qual queremos reformar o sistema educativo, é um jovem autónomo cognitiva e afectivamente – desenvolvimento pessoal; e é um jovem respeitador da autonomia do outro; e portanto, preparado para o amor, o diálogo e a cooperação – desenvolvimento pessoal e social baseado na autonomia.
Mas a definição da reforma que atrás avancei tinha uma segunda parte. Não só apontava para a finalidade da reforma, o desenvolvimento pessoal e social do aluno, mas referia o meio, uma nova relação pedagógica. De modo mais simples, uma relação pedagógica baseada na autonomia. Como se pode melhor definir esta relação pedagógica, quais os seus pressupostos, quais os seus princípios, quais as aplicações, tais são os pontos que me proponho desenvolver.
3 comentários:
Luís, fica o sério desejo de ver o texto publicado na íntegra rapidamente. Um óptimo início!
Obrigado, Jacob!
Rapidamente é já a partir da próxima terça-feira e continuará durante algumas semanas...
Como disse, pela sua extensão, pela sua pertinência, pela sua actualidade e porque sei que raramente alguém lê mais do que três parágrafos de um texto num blogue, decidi fraccionar este artigo. Será publicado todas as terças, quintas e domingos, e cada Post terá um link no final para possibilitar a leitura completa do artigo.
Porque fiquei deveras muito contente com a publicação do teu artigo "Infusões Vocacionais" no vosso blogue Café Odisseia (para além do conteúdo e da qualidade da redacção, também pela coincidência do paralelismo das matérias), aqui deixo o link desse magnífico texto e a recomendação aos estimados leitores do nosso Blogue para que o leiam.
Basta clicar nesse ink: Infusões Vocacionais
Um abraço, e obrigado pela visita!
Só para dizer que subscrevo plenamente as palavras do Jacob...
Aguardo com curiosidade e grande interesse as próximas publicações...
:)
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