7. Princípio das Consequências
A vida foi sempre considerada como grande mestra do desenvolvimento da pessoa. É a experiência acumulada que nos enche de sabedoria, é o sofrimento que nos tempera a vontade, é a memória dos acontecimentos felizes que nos enraíza e enquadra. Mas, sobretudo, são as consequências das nossas acções que nos vão dirigindo, ensinando-nos a caminhar por uma direcção e evitar outra. No entanto, as nossas acções só nos podem dirigir e ensinar se formos autorizados a ressentir-lhes as consequências, se não nos pouparem o sofrimento ou a alegria que nos causam. Infelizmente, com tanta frequência, pais ou professores poupam às crianças os efeitos das suas acções, desperdiçando assim um óptimo método de disciplina que não humilha, não ofende e não impede a autonomia.
Assim, se a criança se levanta tarde e perde o autocarro, não a castiguem nem a absolvam nem muito menos esperem por ela: deixem-na ir a pé; há-de aprender que quem não se levanta a tempo tem que ir à sua custa. Se perdeu o livro, não lhe dêem a bofetada, nem lhe comprem outro: obriguem-na a pagar do seu bolso. Se não fez os trabalhos de casa, não berrem com ela e não a desculpem: terá, por exemplo, de ficar mais tempo na escola para os acabar.
Esta educação pelas consequências foi especialmente desenvolvida pelo clássico pedagogo Rudolpf Dreicurs, que a opôs, por um lado, à educação pelo castigo e por outro à educação pela exortação ou pela completa desculpabilização. No fundo, o que o educador faz é afastar-se da zona de conflito e organizar a situação de tal modo que o educando se veja confrontado com as próprias acções e suas consequências, aprenda delas e, autonomamente, decida tirar os ensinamentos correspondentes. Talvez o educador, numa feliz inversão de papéis, até se torne na presença amiga que apoia o aluno a sofrer com dignidade as consequências das suas acções, em vez de ser juiz ou o algoz que cruelmente observa o castigado a sofrer a pena que ele próprio, professor, impõe ou até administra. A vida, em toda a sua severidade e rigor, é a grande mestra do desenvolvimento e da evolução da pessoa autónoma.
Fonte: CUNHA, Pedro D'Orey da - Ética e Educação, Universidade Católica Editora, Lisboa, 1996, p. 65
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