terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A hipocrisia irrita-me...

Há poucas coisas que me irritem mais do que a hipocrisia. A hipocrisia é uma atitude voluntária, deliberada, consciente e má! A hipocrisia esconde a ira sob a capa da benevolência...

Esta manhã detive-me dois segundos a tentar compreender uma notícia na Sky News, enquanto fazia um zapping na televisão, e foi o bastante para me recordar que a diplomacia internacional é eivada de hipocrisia.

A notícia destacava a detenção de cinco velejadores britânicos pelas autoridades do Irão há quase uma semana, melhor dizendo, a detenção ocorreu no passado dia 25 de Novembro, na quarta feira da semana passada, o mesmo é dizer que faz amanhã uma semana, e só hoje a notícia veio a público, apesar dos homens se encontrarem ainda detidos. E, o que é mais curioso, é que o ministro de Assuntos Exteriores do Reino Unido, David Miliband, minimizou a importância da detenção mesmo apesar de ter conhecimento que o Irão «tomará medidas duras contra cinco velejadores britânicos detidos no golfo Pérsico, caso constate que eles tinham "más intenções", disse na terça-feira um assessor do presidente Mahmoud Ahmadinejad» [TEERÃO/LONDRES (Reuters)].

Pergunto: os desenvolvimentos, as atitudes e as palavras (britânicas) seriam as mesmas se tivesse sido o exército português a fazer a detenção e a manter cativos os cinco velejadores?!

Pergunto: terá a data escolhida pelo governo britânico (hoje, 1 de Dezembro de 2009), para a divulgação da notícia da detenção e manutenção em cativeiro durante uma semana de cinco velejadores britânicos, alguma coisa a ver com o dia da entrada em vigor do Tratado de Lisboa?!




2 comentários:

Manuel Marques Pinto de Rezende disse...

Os problemas nessa zona são imensos, devido ao desacordo quanto à ZEE e ao espaço militar marítimo do Estreito de Ormuz, que é um espacinho muito exíguo, como se pode ver.

Logo, os problemas são coisa normal, espera-se já que se resolvam.

Os Brits já não estão para se chatear com essas coisas, Luís, já lhes passou.

Agora tema para discussão seria este:

No 1º de Dezembro de 1640, Portugal reconquistou a sua soberania.
No 1º de Dezembro de 2009... perdeu-a?

Luís Paulo disse...

Entendo que te tenhas prendido mais com a questão do Tratado de Lisboa, Manuel. Embora essa seja uma questão secundária aqui. Aliás, foi mesmo em último instante que coloquei aquela pergunta (a segunda) que me ocorreu no momento que me preparava para gravar e publicar o Post. Mas entendo porque conheço a tua opinião sobre o assunto.

Mas também já sabes qual é a minha opinião e é a de que "não se muda de cavalo no meio do rio" e também não se deve querer "sol na eira e chuva no nabal", um desejo tão típico do povo português (ou, se quiseres, do ser humano em geral).

A questão da soberania começa a ser uma falácia. Estamos perante um novo paradigma de Soberania. A questão da construção europeia é um processo irreversível - ou consegues apresentar-me soluções alternativas sem te meteres numa empresa semelhante à de desatar um nó górdio sem o cortares é facada?.

A soberania não se perde num determinado dia - e se isso fosse possível, não era hoje que Portugal perderia a sua, já a teria perdido aquando a sua adesão à CEE em 1 de Janeiro de 1986, ou até em 3 de Dezembro de 1980, data em que assinou o acordo de pré-adesão, depois de ter apresentado a sua candidatura de adesão a 28 de Março de 1977 - a soberania perde-se ou cede-se, gradualmente, metamorfoseia-se.

Não vejo em que é que a união dos povos europeus e a sua constituição num «espaço de liberdade, segurança e justiça, no respeito dos direitos fundamentais e dos diferentes sistemas e tradições jurídicos dos Estados-Membros» [art.º 67º do TFUE, ex-art.º 61.º TCE e ex-ART.º 19º TUE] possa diminuir a dignidade individual dos cidadãos europeus, individual ou colectivamente considerados.

Não era esta a temática que queria desenvolver no Post, essa tinha-a guardada para mais tarde num Post dedicado ao assunto, mas acabaste por forçar a antecipação do meu trabalho. :)

Mas, só para recentrar a questão que aqui me trouxe, repito a pergunta (que devia ter sido a única, aqui):

• os desenvolvimentos, as atitudes e as palavras (britânicas) seriam as mesmas se tivesse sido o exército português a fazer a detenção e a manter cativos durante uma semana os cinco velejadores ingleses?!

Grande abraço, Manuel, e bom feriado...

P.S.: e não digas que os Brits já não estão para se chatear com coisas tão pequenas como a detenção de cinco cidadãos seus, mantendo-os cativos com ameaça de tomar «medidas duras contra (os) cinco velejadores (...) caso constate que eles tinham "más intenções".

Lembra-te que já em «Março de 2007 um grupo de 15 elementos da Marinha de guerra britânica foi capturado pelas forças iranianas tendo sido libertado ao fim de 13 dias e de tensões diplomáticas entre os dois países.»

Imagina Portugal em vez do Irão.