4. Princípio do Encorajamento
A criança pode estar fascinada pela matéria de ensino, pode sentir o calor da relação com o professor ou os pais, mas o caminho é sempre difícil, há muitas vezes obstáculos a vencer e depressões a ultrapassar. Para eu gostar da Matemática tenho quer saber a tabuada, para apreciar Camões tenho que consultar muitas vezes o dicionário, para tocar um instrumento tenho que praticar longas horas, para jogar futebol tenho que treinar. A esperança que o educador tem em mim já me conforta e me assegura. Mas se essa esperança não é transmitida nos momentos de depressão, pode ser que eu desista e volte atrás. É assim que crianças desatentas ou distraídas não precisam de ralhete; precisam muitas vezes da mão no ombro, ou da palmada nas costas ou da presença atenta. É assim que a boa professora vai de carteira em carteira animando aqui, corrigindo acolá, explicando ali. Não é tanto a explicação que interessa, é a presença, a lembrança, o cuidado.
Estes quatro princípios, da Fascinação, da Expectativa, do Respeito e do Encorajamento são certamente princípios baseados na autonomia do aluno. O docente não vai à frente arrastando o educando para onde este não quer ir; não se põe à cabeça, conduzindo as tropas para o campo de batalha. Pelo contrário, o docente ilumina o objectivo e põe-se detrás, apoiando o educando que se move por si e se dirige àquilo que o atrai, àquilo de que gosta. Assim, o educador vai desaparecendo à medida que a realidade vai emergindo. E os alunos, como principais reais, avançam com o entusiasmo e a dignidade de quem se determinou e escolheu.
Entremos agora mais profundamente na questão das dificuldades e dos obstáculos. Nem todas as crianças nos aparecem na escola contentes e bem alimentadas, bem dormidas e asseadas. Grande parte das nossas crianças chegam-nos já cheias de medo ou de solidão, ou de fome ou de dor. Temos crianças que vêm de ambientes destrutivos, famílias alcoólicas ou de pais abusivos. Em casa, às vezes só há barulho e ansiedade. Raras vezes se encontram livros, quase nunca música, muitas vezes ignorância e raiva por uma memória rejeitante da escola. Ou então, são crianças mimadas e insolentes, sem hábitos de trabalho nem disciplina interior, acostumadas a ter todos os desejos satisfeitos e os seus caprichos atendidos. São estes os alunos que enchem as nossas classes e que chegam para muitas vezes porem os professores à prova ou apenas para serem ocupados enquanto os pais trabalham.
Quando as crianças não aprendem nem deixam aprender, quando causam problemas disciplinares, quando resistem a todos os esforços, que fazer?
Os princípios seguintes sugerem estratégias de relacionamento, condizentes com os nossos pressupostos básicos de educação para a autonomia.
Fonte: CUNHA, Pedro D'Orey da - Ética e Educação, Universidade Católica Editora, Lisboa, 1996, pp. 61-62
2 comentários:
Eu alertei, no texto de apresentação deste Artigo (tomado como um todo), que algumas partes poderiam parecer desajustadas com a realidade actual já que foram escritas reportando-se o autor a uma época pretérita e que os jovens de hoje não conhecem senão de livros de história, sem no entanto lhes darem a reflexão que tais factos merecem.
Mas, já que me decidi pela publicação do texto integral, não me permiti qualquer supressão discricionária, por um lado, e por outro lado é bom que se lembre que muita coisa já mudou (para melhor) mas muitas outras estão por fazer ainda e, atrevo-me a dizer, sem justificação válida.
O artigo não acaba aqui, tem mais seis publicações, correspondentes a outros tantos princípios. No final será disponibilizado o artigo completo em ficheiro PDF.
Continuação de Boas Leituras!
Olá!
O princípio do encorajamento (neste caso, a falta dele)é, de facto, uma falha do nosso sistema.
Digo isto porque, ao longo de doze anos de ensino, passei por vários tipos de docentes: soube, é verdade, o que é um bom professor, mas também conheci alguns que, certamente, nunca passaram os olhos por este artigo... ou simplesmente não querem saber...
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Mudando de assunto, aproveito para desejar a todos umas Boas Férias e uma Boa Páscoa (que curioso... uma festa religiosa que até dá direito a feriado num Estado laico... Belo debate, aquele de ciência política!!!)
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